quarta-feira, 1 de julho de 2009


E u sou como o areal, naquela praia,
Feito de pequenos fragmentos de cosmos.
Sou como o vento a ondular nos cabelos,
As pegadas deixadas na areia
Ou as conchas recolhidas pelas mãos...

CONSTELAÇÃO


I

1 Sou o areal de pequenos fragmentos geológicos
2 Como um átomo no cosmos sou constelação mítica
3 Místico do amor a ondular nas folhas de um livro
4 Descobrindo ao vento as pegadas que o mar apaga
5 Descontinuando as conchas, búzios e pedras como tesouros
6 Recolhidas pela união das mãos numa harmonia apática
7 E meus fragmentos dispostos nos céus da imaginação. Constelação...

II

1 ...mas também realizo o centro, o eixo, o circulo e o ciclo
2 E represento a verdade dúbia do ser-se no estado mais natural
3 Dos opostos que em seu extremo se tocam unindo-se e fundindo-se
4 Cumprindo assim a unidade inerente em tudo o que é.
5 Porque tudo é nada sem perder qualquer integridade
6 E a integridade, não é senão algo perpetuo em mutação.

III

1 Sou os céus regozijando pelo magnetismo que a vida é
2 E o amor celebrado nos sexos fundidos em procriação,
3 Mas também a atracção pelo igual, simétrico, inteiro
4 A explorar o corpo físico do outro, em busca de si mesmo
5 Enquanto o ser permanece incomensuravelmente distante,
6 Mentalmente separado da sua génese, mas parte integrante do mesmo.

IV

1 Ás vezes escondo-me em segredos, abismos e buracos negros
2 Querendo conscientemente não reconhecer a consciência que sou,
3 Mas verifico em mim a mesma luz de sempre. Luz que não é luz, mas é...
4 Transparência que separa os paradigmas invisíveis e indivisíveis,
5 Unindo-os na inconsciência sagrada das necessidades do espírito
6 Alianando as fronteiras, pelo que não são, nem nunca foram.
7 Representações de verdades em formas e conceitos, diluídos de si.

V

1 Por isso acabo sempre principiando reunido dentro de mim
2 Á procura da experiência do que já conheço e sou
3 Fingindo uma distancia que não há, manuseando o que fui e serei.
4 Não tenho razões ou pecados como feridas, nem filosofias acerca do que não sei,
5 Mas apenas sei que sou, sinto e existo numa contradição polar da mesma coisa,
6 Celebrando o ritual da escrita indelével a querer permanecer após o homem
7 Aparentemente inconsciente, não reconhecendo que o tempo é diferente, para o poeta e para o poema

VI

1 Por isso sou a imensidão dos grãos de areia no deserto, pelo único oceano que já fui
2 E sou também a aparente indiferença, dos dois reunidos na minha praia de sempre
3 E sou igualmente as pegadas de mim no momento presente, fundidas na areia,
4 E os meus pés são o selo, a lacrar a carta ainda fechada da minha vida.
5 Mas sei que existo. E isso faz uma simbólica e significativa diferença
6 No vácuo das ilusões e das promessas impressas na realidade que invento,
7 Porque dentro do momento sou rei. Senhor de mim e do deus do meu querer.

VII

1 Regresso sempre reencontrado e reconhecendo-me no que não vejo
2 Participante na manifestação da vida, encerrada em si enquanto obriga
3 E vejo que a alegria e a Paz, são realmente o lugar onde eu quero estar
4 E o sentido das coisas sem sentido, deixa de fazer sentido para mim
5 E assim destapo o véu da naturalidade, como quem escreve sobre o que não sabe
6 E assim dessa forma esboça, no etéreo, o rabisco assinando pelo que é eterno,
7 Memória de si instante, na forma de uma palavra chamada tempo...

Álvaro Guilherme
08 Março 2009

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