Há dias em que passo por mim distraído, não querendo ver quem lá está, virando a cara a quem sou e nesses dias de alma dorida procuro em vão fugir de mim, refugiando-me na minha solidão. Sinto esta solidão como uma protecção onde anestesio o sentir ficando ausente, querendo passar despercebido de mim mesmo. Susceptível e muitas vezes vencido por mim, rejeito olhar para o mundo e fecho-me numa armadura apenas penetrável, mas com dificuldade, pelo amor.
Nesse estado de aparente ausência de tudo, como numa caverna refugiado, fico divagando pelo espírito em busca de referências e direcção com uma vontade típica de ir para qualquer lado desconhecido, mas não querendo sair da inércia. Paradoxo labiríntico de mim perdido por tempo indeterminado.
Retendo o meu lamento inaudível, deixo passar os instantes como se estes fossem garantidos e nesta surdez ou cegueira, dou-me conta que tudo se passa dentro do meu querer e vontade doente. Pela disfuncional aberração em que me vejo inserido nesta sociedade devoradora, como para um matadouro, onde entram homens por um lado e saem chouriços por outro, prontos a consumir, perfeitamente descartáveis preferencialmente. Carne para as feras famintas e enjauladas em si, num mundo redondo onde o ponto de partida é o ponto de chegada e o percurso é o nada vazio de sentido.
Com uma sede imensa e utópica fico desmentido de mim e dos sonhos, apenas desperto neste sono global, estado generalizado por uma sobrevivência muda, por opção. Diluído na maré humana dos gestos inconscientes, sinto-me como um espectador inerte na minha cela de estimação, olhando a vida ao largo num imenso oceano de sentimentos e emoções como um barco ao sabor da corrente depois de ter percorrido o meu rio e de me ter desviado do meu estuário, ficando vulnerável às intempéries, sob o céu inalcançável que sou.
Toda a minha fome é de devoção pela fé que me salva de mim mesmo, incrivelmente nas circunstâncias mais adversas. Eu Mestre de mim. Uma devoção controversa por um Deus que desejo conhecer e que mesmo sabendo Estar em tudo, sinto uma vontade plena de revolta sem ódio de Lhe virar o rosto, pela dor sentida que ninguém parece ver, mas apenas Ele. Como se fosse possível ser eu coroa de espinho ou cruz, sabendo que sou ressurreição, menosprezo a eternidade por alguns momentos de satisfação imediata. Como uma musica, pintura ou qualquer outra expressão de arte onde o artista tenta ser poema criador de uma inovação inconsciente, num espaço só seu, perscrutado os sentidos em busca de algo Maior. Com um romantismo religiosamente estúpido fico como uma catedral que guarda umas relíquias velhas e duvidosas como se fossem sagradas, quando nem a catedral ou relíquias vão além da tentativa humana de tocar o intocável e assim ruindo ao sabor de séculos e séculos de uma imaginação iludida por um deus pintado num teto abobadado ou escrito e deturpado por milénios de interesses manipuladores que estão aquém da verdade, não passando de conceitos e impressões de artistas líricos, loucos e excêntricos de solidão.
Querendo ignorar que eu sou o altar de tudo no mundo e que por mais que corra para lado nenhum pensando sem direcção, termino sempre no principio que tudo acaba irremediavelmente em mim. O meu coração é a única voz que pode desmentir esta mentira da mente mentirosa, quando irrompe com uma voracidade corrosiva a querer sentir toda a existência como uma enorme ressaca.
Na tentativa de me salvar de mim mesmo, pergunto-me se estou contente com a vida que tenho? A resposta é sempre a mesma, por entre humildade e gratidão, por entre amor e desamor, apresenta-se sempre latente o desejo de chegar mais além...uma impressão de ser maior do que me deixam ser. Quem? Todos aqueles a quem responsabilizei e culpo por não me deixarem ser Santo entre Santos, no santuário que sei que a vida é.
Não há geração, civilização ou mundo que subsista ao poder renovador do Criador, na sua dádiva. E eu apenas sou uma fonte Sua, tentando saciar uma sede apenas minha...pois tudo que sinto é resultado de uma não-aceitação, do perfeitamente aceitável por natureza. Eu! Se eu conseguisse alcançar a compreensão do incompreensível, se eu conseguisse ir além de mim mesmo e de ser como os meus desejos me impõem que seja. Se eu conseguisse ser “normal”! Assim, mergulhado neste vazio, não aceito o apelo de perscrutar o vácuo dentro de mim e perco a oportunidade, de olhar nos olhos de Deus e apenas ser com Ele quem sou.
Sei que no meu silêncio existe o potencial para a sinfonia mais sublime e que dentro da minha escuridão humana há uma luz que parece eterna, mas o grau de dificuldade em relação ao apelo da vontade de parar e ficar quieto sentindo à beleza de Tudo, dentro de mim, é sempre sondado pela duvida a assombrar as minhas aparentes certezas. Enquanto as incertezas se vão disseminando como uma erva daninha no jardim do meu ser, fazendo com que a vontade se banalize em algo supérfluo, questionável e eu não passe de um Jardineiro que arduamente mantêm todos os jardins que não são seus.
Álvaro Guilherme
05 Julho 2009
Nesse estado de aparente ausência de tudo, como numa caverna refugiado, fico divagando pelo espírito em busca de referências e direcção com uma vontade típica de ir para qualquer lado desconhecido, mas não querendo sair da inércia. Paradoxo labiríntico de mim perdido por tempo indeterminado.
Retendo o meu lamento inaudível, deixo passar os instantes como se estes fossem garantidos e nesta surdez ou cegueira, dou-me conta que tudo se passa dentro do meu querer e vontade doente. Pela disfuncional aberração em que me vejo inserido nesta sociedade devoradora, como para um matadouro, onde entram homens por um lado e saem chouriços por outro, prontos a consumir, perfeitamente descartáveis preferencialmente. Carne para as feras famintas e enjauladas em si, num mundo redondo onde o ponto de partida é o ponto de chegada e o percurso é o nada vazio de sentido.
Com uma sede imensa e utópica fico desmentido de mim e dos sonhos, apenas desperto neste sono global, estado generalizado por uma sobrevivência muda, por opção. Diluído na maré humana dos gestos inconscientes, sinto-me como um espectador inerte na minha cela de estimação, olhando a vida ao largo num imenso oceano de sentimentos e emoções como um barco ao sabor da corrente depois de ter percorrido o meu rio e de me ter desviado do meu estuário, ficando vulnerável às intempéries, sob o céu inalcançável que sou.
Toda a minha fome é de devoção pela fé que me salva de mim mesmo, incrivelmente nas circunstâncias mais adversas. Eu Mestre de mim. Uma devoção controversa por um Deus que desejo conhecer e que mesmo sabendo Estar em tudo, sinto uma vontade plena de revolta sem ódio de Lhe virar o rosto, pela dor sentida que ninguém parece ver, mas apenas Ele. Como se fosse possível ser eu coroa de espinho ou cruz, sabendo que sou ressurreição, menosprezo a eternidade por alguns momentos de satisfação imediata. Como uma musica, pintura ou qualquer outra expressão de arte onde o artista tenta ser poema criador de uma inovação inconsciente, num espaço só seu, perscrutado os sentidos em busca de algo Maior. Com um romantismo religiosamente estúpido fico como uma catedral que guarda umas relíquias velhas e duvidosas como se fossem sagradas, quando nem a catedral ou relíquias vão além da tentativa humana de tocar o intocável e assim ruindo ao sabor de séculos e séculos de uma imaginação iludida por um deus pintado num teto abobadado ou escrito e deturpado por milénios de interesses manipuladores que estão aquém da verdade, não passando de conceitos e impressões de artistas líricos, loucos e excêntricos de solidão.
Querendo ignorar que eu sou o altar de tudo no mundo e que por mais que corra para lado nenhum pensando sem direcção, termino sempre no principio que tudo acaba irremediavelmente em mim. O meu coração é a única voz que pode desmentir esta mentira da mente mentirosa, quando irrompe com uma voracidade corrosiva a querer sentir toda a existência como uma enorme ressaca.
Na tentativa de me salvar de mim mesmo, pergunto-me se estou contente com a vida que tenho? A resposta é sempre a mesma, por entre humildade e gratidão, por entre amor e desamor, apresenta-se sempre latente o desejo de chegar mais além...uma impressão de ser maior do que me deixam ser. Quem? Todos aqueles a quem responsabilizei e culpo por não me deixarem ser Santo entre Santos, no santuário que sei que a vida é.
Não há geração, civilização ou mundo que subsista ao poder renovador do Criador, na sua dádiva. E eu apenas sou uma fonte Sua, tentando saciar uma sede apenas minha...pois tudo que sinto é resultado de uma não-aceitação, do perfeitamente aceitável por natureza. Eu! Se eu conseguisse alcançar a compreensão do incompreensível, se eu conseguisse ir além de mim mesmo e de ser como os meus desejos me impõem que seja. Se eu conseguisse ser “normal”! Assim, mergulhado neste vazio, não aceito o apelo de perscrutar o vácuo dentro de mim e perco a oportunidade, de olhar nos olhos de Deus e apenas ser com Ele quem sou.
Sei que no meu silêncio existe o potencial para a sinfonia mais sublime e que dentro da minha escuridão humana há uma luz que parece eterna, mas o grau de dificuldade em relação ao apelo da vontade de parar e ficar quieto sentindo à beleza de Tudo, dentro de mim, é sempre sondado pela duvida a assombrar as minhas aparentes certezas. Enquanto as incertezas se vão disseminando como uma erva daninha no jardim do meu ser, fazendo com que a vontade se banalize em algo supérfluo, questionável e eu não passe de um Jardineiro que arduamente mantêm todos os jardins que não são seus.
Álvaro Guilherme
05 Julho 2009
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