Absurdo o meu corpo despido
Deitado enquanto sinto que existo,
Sobre uma laje de xisto aquecida
Ao sol enquanto a lua é desmentida.
È um calor que penitencia e purifica
A minha pele macia e volátil ao tempo
E que me dá a certeza de jamais sentir
A fria pedra de uma morgue esquecida.
As ondas cavalgam em minha mente
Desenganada por si mesma, em ultima instancia
E o mar, do infinito de não ser imortal
Faz falar os seixos, que rolam na orla
E entoam uma doce e sinistra canção.
Vem! Vem, mas não tenhas pressa
Que eu sei esperar pela única e certa hora.
Onde terminam os anjos, fantasmas
E todos os caminhos, de onde nunca ninguém voltou
Para contar historias de embalar e de enganar.
Serei um dia o branco mármore duma sepultura
Onde eu quis escrever um poema de amor,
Lapide de mim mesmo vulnerável a erosão do tempo
Num cemitério suspenso dentro de outra realidade.
Jazigos e funestas imagens virão visitar-me
Sem olhos para me ver nem eu a elas
E virgens de terracota mal feitas e desajeitadas
Gritam ocas para dentro de si mesmas
Pelo filho pendurado na cruz á dois mil anos que sou.
Flores, muitas flores... as pétalas de todas as flores
De todos os funerais de mim mesmo a que assisti
Espalham-se com o gélido vento do Inverno em mim
E vêem cobrir os meus pés, mãos e rosto, em forma de sol-posto
Enquanto o corpo é lavado pelas lágrimas das alegrias que vivi.
Lívidas liturgias indecifráveis e reclamadas aos clamores
Dos que gritaram por um deus no qual nunca acreditaram,
Ressoam ainda deambulantes pelas catacumbas do ser incrédulo
Que se quer esquecer, de todas as vidas passadas e rebuscadas
Para assim se diluir nas chuvas, que correm para o mar do esquecimento.
Pérfidas orações de freiras grávidas de secretos remorsos conventuais
Permanecem, fingindo olhar para aqueles que não conseguiram ser sacerdotes,
Gritando e gemendo como carpideiras, no velório do que fui na solidão de mim,
Enquanto num derradeiro e heróico esforço tento alcançar a imortalidade
E assim verifico que continuo sem saber quem sou, para onde vou e de onde vim.
Álvaro Guilherme
13 Novembro 2008
Deitado enquanto sinto que existo,
Sobre uma laje de xisto aquecida
Ao sol enquanto a lua é desmentida.
È um calor que penitencia e purifica
A minha pele macia e volátil ao tempo
E que me dá a certeza de jamais sentir
A fria pedra de uma morgue esquecida.
As ondas cavalgam em minha mente
Desenganada por si mesma, em ultima instancia
E o mar, do infinito de não ser imortal
Faz falar os seixos, que rolam na orla
E entoam uma doce e sinistra canção.
Vem! Vem, mas não tenhas pressa
Que eu sei esperar pela única e certa hora.
Onde terminam os anjos, fantasmas
E todos os caminhos, de onde nunca ninguém voltou
Para contar historias de embalar e de enganar.
Serei um dia o branco mármore duma sepultura
Onde eu quis escrever um poema de amor,
Lapide de mim mesmo vulnerável a erosão do tempo
Num cemitério suspenso dentro de outra realidade.
Jazigos e funestas imagens virão visitar-me
Sem olhos para me ver nem eu a elas
E virgens de terracota mal feitas e desajeitadas
Gritam ocas para dentro de si mesmas
Pelo filho pendurado na cruz á dois mil anos que sou.
Flores, muitas flores... as pétalas de todas as flores
De todos os funerais de mim mesmo a que assisti
Espalham-se com o gélido vento do Inverno em mim
E vêem cobrir os meus pés, mãos e rosto, em forma de sol-posto
Enquanto o corpo é lavado pelas lágrimas das alegrias que vivi.
Lívidas liturgias indecifráveis e reclamadas aos clamores
Dos que gritaram por um deus no qual nunca acreditaram,
Ressoam ainda deambulantes pelas catacumbas do ser incrédulo
Que se quer esquecer, de todas as vidas passadas e rebuscadas
Para assim se diluir nas chuvas, que correm para o mar do esquecimento.
Pérfidas orações de freiras grávidas de secretos remorsos conventuais
Permanecem, fingindo olhar para aqueles que não conseguiram ser sacerdotes,
Gritando e gemendo como carpideiras, no velório do que fui na solidão de mim,
Enquanto num derradeiro e heróico esforço tento alcançar a imortalidade
E assim verifico que continuo sem saber quem sou, para onde vou e de onde vim.
Álvaro Guilherme
13 Novembro 2008
Gostei!
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